Diálogos Peculiares

- Uma pessoa acenando no ônibus, que passa, de longe, para aqui, para longe novamente. Uma pessoa qualquer, com um rosto único, seu sorriso, e seu olhar, daqui para lugar algum, não se sabe. Um aceno como resposta, uns passos, e outro sorriso. Não nos conhecíamos, e ainda não nos conhecemos, apenas um aceno, e nunca conhecer-nos-emos. Sofrer por um encontro desencontrado... será inútil?

- Melhor sofrer por acontecer, do que não sofrer por não acontecer.

- E que devo fazer? Lutar inutilmente para reencontrar? Esquecer? Lutar para não ocorrer novamente?

- Que tal viver com outra razão?

- Que razão?

- Sem razão.

- Mas eu sofro por tudo isso, não posso ignorar.

- Não estou falando para ignorar, mas para viver com isso, não para isso.

- Se viver para isso me faz sofrer, que me faria viver com isso?

- Foi prazeroso sorrir naquele momento, não foi? Viver com isso implica viver com esse sorriso, também.

- E quando me ocorrer novamente, com outra pessoa, noutro lugar, noutro momento?

- Você trata o momento como algo a ser superado, e não é assim, você não sofreu enquanto ele ocorria, não deve sofrer agora que passou, o passado não muda o presente, se é que existem. Você sofre por ter tido esse momento, mágico! Não deveria ser o contrário?

- Simplesmente seguir o caminho?

- Seguir? O caminho não anda... mas você pode seguir qualquer outra coisa, ao lado de qualquer outra, construindo um caminho qualquer, daqui, para lugar algum.

- E você, o que segue?

- Algo que me seja bonito.

- E ao lado de quem?

- No momento, ao seu lado.

- Então, um sorriso?

- Dois.

- Um.